Meditações

As rachaduras e as goteiras da alma

Por Maurício Zágari

Cada um de nós temos qualidades, coisas boas, porém, independente dessas qualidades, continuamos sendo imperfeitos.

Eu contei: no último ano, saí 37 vezes de casa para pregar, em igrejas próximas ou distantes. Isso me levou a viajar muito pelo Brasil e, consequentemente, a ficar hospedado em diferentes hotéis. Algo interessante que percebi é que nunca um quarto de hotel, por mais simples ou luxuoso que seja, é perfeito. Isso me fez pensar um pouco sobre a perfeição – ou a falta dela. Em Brasília, o ar condicionado jogava ar gélido diretamente sobre a cama. Em Teresina, o ar condicionado estava pifado. Em Barra do Piraí, a janela do quarto dava para uma área cheia de popô de pombos. Em Jaboatão dos Guararapes, o vento na janela era tanto que era difícil dormir com o assobio do vendaval. Em João Pessoa, o chuveirinho do banheiro vazava e encharcava o quarto inteiro. Em Recife, o chuveiro minava água, que inundava o banheiro após cada banho – que era difícil de tomar porque ou a água ficava muito quente ou muito fria. E o telefone do quarto não funcionava. Em nenhum hotel havia tapete no box, o que me levou a sempre pôr uma toalha de rosto no chão para não escorregar. E por aí vai. 

Entenda, por favor: não estou reclamando, de forma alguma. Os hotéis foram todos muito agradáveis, reservados com muito carinho e atenção pela generosidade dos queridos irmãos que nos convidaram para pregar ou palestrar. As acomodações eram excelentes e nos permitiram descansar, repousar e ter sossego para orar em paz e nos preparar para as ministrações. Foram bênção e sou grato a cada irmão que convidou a mim, minha esposa e minha filha para ali ficar hospedados. O ponto para o qual desejo chamar atenção é que, embora fossem todos hotéis muito agradáveis, nenhum deles era absolutamente perfeito. Sempre havia algo que me obrigava a pedir auxílio na recepção para trocar de quarto ou improvisar algum tipo de solução. 

Eu e você somos como esses quartos de hotel. Temos muitas características boas, qualidades, virtudes e valores admiráveis. Somos pessoas cinco estrelas, pois fomos criados à imagem e semelhança do Criador. Mas jamais seremos perfeitos. Sempre haverá em nós algo a ser consertado, remendado, aperfeiçoado. Fomos criados como resultado do amor de Deus, mas o pecado que habita em nós faz com que algo sempre precise de ajustes. 

A grande vantagem de se adquirir essa percepção, em vez de posar de superssantos inerrantes, é que nos colocamos em nosso devido lugar e, com isso, nos tornamos mais graciosos com o erro alheio. Ao perceber que temos muitas imperfeições e falhas, somos levamos a tolerar e suportar os defeitos do nosso próximo com graça e compaixão. Afinal, não somos melhores do que ninguém e estamos todos no mesmo barco – aquele que transporta pecadores em processo de aperfeiçoamento pela vida até o dia em que chegaremos ao nosso destino final. 

Da próxima vez que você deparar com alguém que te incomoda, chateia ou entristece pelos defeitos que tem, lembre-se de que, se ele apresenta um vazamento de água, você está com seu ar condicionado pifado. Se o seu próximo não tem tapete no box do chuveiro, você tem janelas que assoviam constantemente pelo vendaval. Todos temos falhas: as suas apenas são diferentes das do seu próximo. Nem melhores, nem piores: só diferentes. 

O pior tipo de cristão é o que se põe acima dos demais, seja moralmente, seja espiritualmente, seja intelectualmente. Há quem creia na depravação total da humanidade – que nos iguala a todos – mas age com quem ele considera estar errado com arrogância, altivez, soberba. Apresenta-se como detentor de conhecimento superior, de mais santidade, de mais cristianismo. E se esquece de que sua goteira pinga dia após dia, inundando o quarto de sua alma. Falta de graça. Falta de amor. Falta de compaixão. Falta de autocrítica. Falta de Cristo. 

Se você considera que alguém está errado, lembre-se de que você também está. Ele erra em A, você erra em B. Sua moral não é irretocável. Seu conhecimento teológico não é inerrante. Sua espiritualidade não é inequívoca. Seu relacionamento com Deus é cheio de buracos. Você é falho, como eu, como qualquer outro. Tenha humildade, pelo seu próprio bem. E porque não haveria nenhuma razão para não ter.

Na maioria das ocasiões, tive de solicitar auxílio à recepção do hotel. Por vezes me mudaram de quarto, em outras  mandaram alguém da manutenção, em outras tantas solucionaram a questão trocando aparelhos defeituosos. Recomendo que você procure o grande Recepcionista da sua vida e peça a ele ajuda para consertar as suas imperfeições, sabendo que para cada tipo de problema há uma solução diferente. Preocupe-se mais com os seus vazamentos e defeitos do que com os do próximo. Acredite: já será um grande avanço se você conseguir que a goteira ou o ar gélido da sua própria alma seja consertado. 

Aí, então, com a convicção de que você é um daqueles quartos de hotel cinco estrelas mas, por baixo das partes restauradas, bem cheio de rachaduras,  ajude seu próximo a solucionar o telefone quebrado dele, com amor, carinho, encorajamento, paciência e graça. Ao fazer isso, em vez de agir como alguém petulante e acusador, você de fato estará exercendo seu papel como filho de Deus e cidadão do Reino dos céus. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari 

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