Meditações

Onde está Deus?

Por Maurício Zágari

Se buscamos a intimidade com Deus, passamos a vê-lo e à sua ação em nossa vida em tudo.

Minha filha viu esta foto no meu facebook e me perguntou: “Papai, por que não estou nessa foto?”. Eu olhei bem para o retrato, me lembrei das circunstâncias em que ele foi tirado e respondi: “Bebê, você sempre precisa ver além daquilo que se pode enxergar. É óbvio que você está nessa foto”. Ela fez uma cara intrigada, como se fosse uma detetive tentando decifrar um enigma. Ficou um longo tempo examinando a imagem. Depois de muitos segundos de análise, a filhinha fez um beicinho e disse: “Papai, não estou não. Não estou!”  Foi quando eu indaguei, baixinho: “E quem foi que tirou a foto?”. Depois de refletir um pouco, ela escancarou um sorriso luminoso e satisfeito e respondeu: “Fui eu! Fui eu!”. 

Existem duas formas de se enxergar as coisas da vida: ou nos prendemos ao visível, ao que está evidente, ou entramos em uma dimensão diferente, na qual podemos perceber aquilo que os olhos não mostram. A diferenciação entre essas duas maneiras de enxergar o cotidiano depende do grau de intimidade que temos com Deus. Se em tudo inserirmos o Senhor e sua Palavra, veremos tudo à luz do plano divino para a existência humana. Se, porém, optarmos por uma caminhada distante do Todo-poderoso, os fatos do dia a dia serão vistos sempre à parte do mundo espiritual e da mente divina. 

Vou explicar o que quero dizer, usando como exemplo a foto que chamou a atenção da minha filha. Um olhar distanciado de Deus verá o quê? Um grupo de pessoas posando para uma foto. Só. Mais uma entre milhares de outras fotos que vemos ou tiramos rotineiramente. Dá para ver uma senhora de rosto manchado, ao lado de uma jovem mulher e um casal de pé. Nada de mais, não é? Uma foto comum, corriqueira, mais uma entre muitas. Porém, se você desperta e dorme com fome e sede da divina presença, enxergando tudo pelos olhos do Espírito, essa foto revela mundos sobre Deus. Como assim? Eu explico. 

A foto me mostra o cuidado de Deus com seus filhos. Afinal, nela está minha mãe, com o rosto ainda manchado pelo hematoma causado pelo tombo que levou, mas bem, viva e saudável. O retrato foi feito no dia em que mamãe chegou ao hospital. Também vejo minha prima Andréia, que veio nos visitar e, assim, compartilhar de seu amor. A presença dela nesse momento me mostra o amor ao próximo, a solidariedade, a compaixão, presentes de Deus para aquecer o coração, aplacar a solidão e nos fazer alegrar-nos com quem se alegra e chorar com quem chora. 

A foto me mostra ainda minha esposa, o que me fala sobre a bênção do casamento, instituição divina que nos permite ter aconchego e vínculos, perpetuar nossa linhagem e viver a vida dentro de um projeto conjunto e de auxílio e afeto mútuos. Providência divina para, na dificuldade da vida a dois, sermos moldados cada dia mais à semelhança de Cristo. Enxergo nessa foto também a minha casa, comprada porque Deus me abençoou e à minha esposa com saúde que nos permite trabalhar e com dons e talentos que nos permitem fazer bem nosso trabalho e receber o justo salário que nos permitiu comprar nosso apartamento. 

Vejo ao fundo uma foto de uma viagem de férias que fizemos, presente de Deus para que tivéssemos a alegria do lazer, do descanso e da renovação de forças. A foto me mostra, ainda, o telefone espanhol da década de 1940 que meu irmão me deu. Ao olhá-lo, sou lembrado de que Deus me deu a graça de ter gente que, mesmo distante, me ama e pensa em mim, dando-me até mesmo mimos supérfluos mas que revelam laços fraternos inquebráveis e eternos. 

Eu poderia dizer muitas outras coisas sobre Deus que enxergo nesta foto, mas creio que já deu para ter uma ideia. O resumo é que, se buscamos a intimidade com Deus, passamos a vê-lo e à sua ação em nossa vida em tudo. Tudo. Tudo. Ao olhar essa foto tão trivial, vejo amor, cuidado, família, alegria, vida, fraternidade, projetos, bençãos de todo tipo, sonhos, capítulos abençoados da jornada… vejo Deus. Sim, eu vejo Deus. E como vejo!

Se você está lendo este texto, acredito que é porque se interessa por assuntos da vida cristã. Então, concluo que você ama a Cristo. E, se ama, é porque ele soberanamente o chamou por sua graça. A partir daí, cabe a você mergulhar nas profundezas desse amor ou ficar apenas sentado à beira do oceano, olhando de longe as marolas do Eterno. Deus fez a parte dele, digamos assim, e trouxe você para si. Porém, quão perto dele você viverá depende de uma busca pessoal, que definirá o tom e o som desse relacionamento. Deus quer fazer uma sinfonia, mas, se você ficar satisfeito em apenas tocar flauta doce, a música da sua vida espiritual ficará muito aquém do que poderia. 

Olhe em volta. O que você vê? 

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari

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