Meditações

Perfeição, transparência e hipocrisia

Por Maurício Zágari

A mascará da perfeição que muitos tem usado, tendo como consequência a grande hipocrisia.

Confesso que acho muito, muito, muito estranho quando vejo pessoas perfeitas. Ou… aparentemente perfeitas. Na era das redes sociais, quando virou hábito criarmos um personagem idealizado de nós mesmos para apresentar ao mundo via Internet, tornou-se comum ver irmãos e irmãs que parecem viver numa espécie de país das maravilhas. Sua vida é fantástica, o casamento é espetacular, ele é o príncipe dos contos de fadas da esposa, as viagens que faz são coisa de cinema, o prato do almoço parece feito por computação gráfica, o culto em sua igreja é sempre uma bênção… fico de queixo caído. A vida perfeita. A pessoa perfeita. Mas, então, desligo o computador, olho no espelho e percebo que minha vida é cheia de problemas, meu casamento já teve muitos altos e baixos, eu estou mais para Shrek do que para príncipe de conto de fadas, minhas viagens têm diversos dias de chuva, o prato do meu almoço é um feijão com farofa meio desmontado e o culto…  bem, o culto foi uma bênção (algum culto não é?). Poxa, Deus, por que eu sou tão imperfeito?, resmungo. Mas, então, acontece de eu ter um pouco mais de contato com a realidade de vida daquele irmão ou irmã e descubro que toda aquela perfeição era apenas uma fachada, uma máscara. A verdade era bem diferente, bastante imperfeita, e isso por um fato óbvio: é vivida por pessoas imperfeitas. E essa percepção me leva a refletir sobre duas necessidades do evangelho: perfeição e transparência.

Paulo é um dos meus personagens preferidos da Bíblia. Eu o vejo nas Escrituras em uma constante busca pela perfeição, porém, sem jamais deixar de ser transparente acerca de suas fragilidades, fraquezas e… imperfeições. Dificilmente você veria nas redes sociais dele algo como “Eu sou perfeito, vivo em total santidade e tudo na minha vida é impecável”. Não. Paulo não usava filtros. O que você leria na postagem matinal do Facebook dele seria: “Nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto”. Após o almoço, mais um post do irmão Paulo: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço”. E, à noite, o sincero Paulo publicaria em sua timeline: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado”.

Todas essas postagens de Paulo, que estão em Romanos 7, me mostram um homem que não tenta ser o que não é e que nem ao menos tenta aparentar  uma perfeição fingida. Mais ainda: alguém que, no que se refere à sua total imperfeição, é absolutamente transparente.

Jesus disse: “sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5.48). Se dizemos que algo é perfeito, isso significa, ao pé da letra, que é “acabado”, “pronto”, “completo”, “sem defeito”, “primoroso”. Mas eu não sou alguém pronto, estou em constante aperfeiçoamento; não sou completo, muitas qualidades ainda me faltam. Primoroso? Nem de longe! E… sem defeito? Fala sério. Não, definitivamente, “perfeito” não me define. Aliás, sejamos francos? Não define ninguém. O único homem que pisou na terra e merece ser chamado de “perfeito” é Jesus de Nazaré, homem completo, cordeiro sem mancha, irretocável, acabado e pronto. A grande questão é: mas e aí? Como o Mestre nos mandou ser algo impossível? 

Voltando a Paulo, o encontramos em Filipenses confessando: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo” (Fp 3.12). Outra tradução diz: “Não estou querendo dizer que já consegui tudo o que quero ou que já fiquei perfeito, mas continuo a correr para conquistar o prêmio, pois para isso já fui conquistado por Cristo Jesus”. Paulo sabia que não era perfeito, mas, mesmo assim, prosseguiria se esforçando. Repare o verbo que usei: “se esforçando“. “Continuo a correr para conquistar o prêmio” revela claramente um esforço contínuo. 

A esse respeito, é muito interessante você observar o contexto de quando Jesus nos diz que devemos ser perfeitos. Ele vem falando, desde Mateus 5.43, sobre a importância de amarmos nossos inimigos, de orar por quem nos persegue, de não amar somente quem nos ama. E conclui, dizendo: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”. Repare a palavra “portanto”. O uso desse termo significa que a proposta de perfeição de Cristo é uma consequência do que ele disse imediatamente antes: amar quem não é amável, o que é algo extremamente difícil. Logo, o que enxergo, novamente, é que a perfeição (alvo inatingível), deve nos motivar a sermos esforçados (alvo atingível). Ao máximo. Com todas as nossas forças. Combater o bom combate não significa combater com perfeição, mas com todo esforço possível. “Seja fiel até a morte” é uma exortação que aponta para a necessidade de se esforçar para permanecer fiel. Empenho. Perseverança. Esforço. 

Ser perfeito é impossível. Esqueça, as postagens supostamente perfeitas nas redes sociais não mudarão essa realidade. Mas ser esforçado é totalmente possível. Mais que isso, é desejável. O que devemos fazer é nos esforçar para alcançar aquilo que nunca alcançaremos. Por loucura? Não, por saber que, no decorrer desse esforço, obteremos muitas conquistas espirituais. E, sabe, acredito piamente que ser transparente como Paulo foi  é um componente indispensável nessa jornada rumo à utópica perfeição. Pois, se existe alguém imperfeito, esse alguém é aquele que esconde as suas verdades – tais como os fariseus e mestres da lei que Jesus tanto criticou. Em outras palavras, os hipócritas. 

Você quer ser perfeito? Comece sendo transparente. Revele suas fragilidades. Não oculte seus erros. Seja autêntico e pare de tentar aparentar ser quem você nunca será. Garanto que o seu esforço para alcançar esse patamar  de sinceridade fará de você alguém que, aos olhos de Deus, estará muito, mas muito mais próximo da perfeição. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari 

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